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A seca que dizima pastagens, mata animais de fome e de sede, deixa os mananciais secos, causando grandes prejuízos à economia da região de Identidade do Território do Sisal. No município de Ichu, a 180 quilômetros da capital, o cenário é este: sem safra agrícola e com as reservas hídricas secas, centenas de famílias de pequenos agricultores rurais, estão sem água encanada, e encontram dificuldades para obtê-la para consumo próprio, devido aos reservatórios estarem secos. O desmatamento das margens ciliares do rio Tocos, na divisa de Ichu com o município de Riachão do Jacuípe, é preocupante.
A moradora da comunidade de Quixaba, Jailma Anunciação de Araújo, mãe de três crianças, tem o programa social Bolsa Família como principal fonte de renda. “Moramos em uma região de poucas chuvas e de difícil emprego. Se não fosse os R$ 800,00 que recebo do programa social, não sei o que seria de nós. Cada dia que passa as coisas ficam mais difíceis. Um carro-pipa com 9 mil litros de água potável custa R$ 300,00. Governador, água é vida e nós necessitamos dela para sobrevivermos. Espero que o senhor olhe para nós com mais carinho e coloque água encanada em nossa comunidade, para que possamos viver com mais dignidade”, desabafa.
A situação da mãe solo Marilene Carvalho de Jesus, com dois filhos, não diverge das outras 13 famílias que moram na região de Quixaba. A dona de casa que vive com R$600,00 que recebe do Governo Federal, comentou que, quando a prefeitura de Ichu coloca agua potável, não é necessário reunir os moradores para aquisição do produto, que custa de R$ 250,00 a 300,00 o carro. “Sabemos, governador, que o senhor se preocupa muito com as pessoas do campo. A única coisa que lhe peço é que olhe para nós e nos dê vida, trazendo água encanada para nossa comunidade. Deus há de lhe abençoar e de lhe proteger por essa ação humanitária” disse.
Com uma área territorial de 148 km² e uma população de 6 mil habitantes, o pequeno município de Ichu, conta com apenas cinco reservatórios hídricos dos quais, quatro estão secos e um com alto teor de insalubridade. Segundo o prefeito José Gonzaga, a comunidade está vivendo a maior seca dos últimos 10 anos. “A falta de água tem afetado a zona rural e a sede. Só que o homem do campo estão sofreno demais. Não existe água potável no município e o pouco que temos no açude não é consumível devido o teor de insalubridade. E isso é o que mais nos preocupa. As áreas mais castigadas são: Mira Galho, Quixaba, Cajueiro, Pau D’arco e Jitirana, comunidades essas que ainda não universalizamos com implantação do sistema simplificado de água encanada” relata.
O gestor informou ainda, que os moradores da zona rural, vêm sendo atendidos através de dois carros-pipa que recebem água potável da Embasa de Riachão do Jacuípe, a 25 km de Ichu. “A demanda é grande e os carros da prefeitura não estão dando conta e vamos ter que alugar outros veículos”, comenta. Gonzaga espera contar com medidas emergenciais do Estado para limpar os açudes que estão secos, para que aumentem o volume de armazenamento de água, quando vier o período das chovas e, assim, atender a população rural, evitando a repetição do quadro atual. “Hoje estamos com duas retroescavadeiras e duas pás-carregadeiras, limpando pequenos tanques desde o mês de agosto. Sexta-feira, iniciamos a limpeza da represa da comunidade do Canavial”, finaliza.
Seca – Idoso de 81 anos, trabalha de domingo a domingo cortando palma para alimentar os animais
O campo totalmente seco por conta da longa estiagem, a palma e o mandacaru são últimas alternativas para evitar o alto custo da ração industrializada. A fazenda Jenipapo, as margens da estrada que liga o distrito Aroeira – Conceição do Coité ao município de Ichu, retrata uma realidade de milhares de produtores do sertão da Bahia.
A longa estiagem tem causado grande sofrimento e prejuízos ao homem do campo, que precisa encontrar alternativas para que os animais não morram de fome.
O registro feito pelo Calila Notícias na última quinta-feira, 19, do árduo trabalho do idoso Afonso Lopes Guimarães, 81 anos, na fazenda Jenipapo, as margens da estrada que liga o distrito Aroeira – Conceição do Coité ao município de Ichu, retrata uma realidade de milhares de produtores do sertão da Bahia.
O campo completamente seco, o verde da resistente palma atrai a criação que vai atrás do idoso | Foto: Raimundo Mascarenhas |
“Trabalho de domingo a domingo, eu tenho uma filha que me ajuda, mulher daquelas poucas que tem aqui na região. Ela é formada, não liga pra formatura, vem pra a roça e faz até parto de vaca, enche o reboque de mandacaru, ela é muito disposta”, falou com orgulho o senhor Afonso e lembrou também de Jhony, outro filho que cuida de outra propriedade na Lagoa Ferrada.
Essa palma será triturada e colocada em cochos para melhor aproveitamento Foto: Raimundo Mascarenhas |
Diz ter uma quantidade de palma relativamente boa, 7 tarefas, mas segundo ele já foi bem maior em 2011, quando teve outra seca muito longa e ele precisou tirar toda e foi feito um novo plantio que está servindo para alimentar os rebanhos neste momento de seca.
Foto: Raimundo Mascarenhas |
Campo de sisal completamente murcho
Foto: Raimundo Mascarenhas |
A reportagem do CN registrou um campo de sisal às margens da rodovia BA 120, trecho Coité – Retirolândia com as folhas praticamente todas caídas pela falta de chuvas. Numa visão panorâmica dá pra ser ter uma ideia do sofrimento dos produtores, o calor é tão forte na região que já compromete completamente a fauna e a flora.
Foto tirada do Ponto da Pinha - Retirolândia sentido Coité | Foto: Raimundo Mascarenhas |
A seca, a fé e a esperança: em Santaluz, fiéis caminham em oração por chuva
Na terça-feira (24), ruas do centro de Santaluz, na região sisaleira da Bahia, foram palco de uma cena que mistura tradição, fé e resiliência. Um grupo de fiéis da Paróquia Santa Luzia transformou a esperança em ação, saindo em caminhada devocional para pedir a intercessão de São José, o santo reconhecido por trazer alívio em tempos difíceis.
A seca, que não é novidade, tem mostrado sua força novamente. Há meses, a estiagem castiga a região, comprometendo a agricultura, a criação de animais e tornando o acesso dos moradores à água um desafio diário. No último dia 18 de outubro, a prefeitura decretou mais uma vez situação de emergência válida por 180 dias. Mas, para quem participou da caminhada, o maior recurso não está nos decretos ou nas previsões do tempo, mas na fé.
Com cânticos e orações, os fiéis seguiram pelas ruas até um barreiro de água. Lá, o padre Gildvan de Oliveira conduziu um ato litúrgico, que foi mais que um ritual; foi um chamado à reflexão. “Eu acredito que a fé tudo pode. Deus tudo pode. Mas o que assistimos no mundo – a seca, as guerras, a miséria – são muitas vezes fruto da nossa própria intervenção, do nosso mal agir. Tiramos Deus do centro da nossa existência para nos colocarmos em Seu lugar. Ainda assim, acredito que Deus tem a última palavra. A fé pode fortalecer a comunidade diante dos desafios causados pela própria humanidade”, disse o padre ao Notícias de Santaluz.
O tom do padre é de quem fala com o coração aberto, mas também com os pés no chão da realidade. Entre suas reflexões, ele relembrou momentos que comprovaram, segundo ele, o poder da devoção a São José. “Ano passado, em Salgadália, em um tempo de seca como esse, fizemos uma procissão com a imagem de São José até um tanque. Foi um momento muito bonito de oração, semelhante ao que vivemos aqui em Santaluz. Colocamos a imagem na água, rezamos. Para muitos, aquilo parecia ridículo. Mas não demorou dois dias e a chuva caiu. Não pela nossa força, mas pela intervenção de Deus. São José está próximo de Deus e pode interceder, sim, pela chuva na terra.”
A mensagem final do padre é um convite à esperança, especialmente para agricultores e moradores de Santaluz. “Não percamos a fé, não percamos a esperança, porque nós temos um porto seguro, nós temos um direcionamento, nós temos alguém para nos lançar. E esse alguém é o próprio Deus, que tudo pode.”
Enquanto a seca persiste, o povo de Santaluz segue caminhando, movido por uma fé que resiste até ao solo rachado. No espírito do Natal, tempo de esperança e renovação, eles continuam acreditando que a chuva, mesmo tardando, chegará. É essa força silenciosa e poderosa que os mantém firmes. Afinal, como dizem, a água sustenta a vida, mas é a fé que verdadeiramente alimenta a alma.
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