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O artesanato, atividade que movimenta a economia de muitas cidades, é
compreendido como elemento importante para a identidade cultural no
Território do Sisal. A prática é objeto do grupo de pesquisa do Centro
Interdisciplinar de Desenvolvimento e Gestão Social (CIAGS), da Escola
de Administração da Universidade Federal da Bahia (ADM –UFBA),
coordenada pela professora Tânia Fisher. O projeto “Maestria em artes e ofícios populares: mapeamento dos mestres artesãos e seus saberes populares no Território do Sisal”
busca catalogar os grupos culturais da região. A pesquisa, financiada
pela Fundação de Amparo à pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB), por meio
do Edital Semiárido de 2007, teve o objetivo de investigar os fenômenos
sociais representados pelo surgimento dos ofícios artesanais, bem como
sua diversidade, tendo como ênfase: 1) os artesão e sua produção
enquanto natureza e 2) a trajetória das formas organizativas e
tecnológicas de difusão dos saberes populares. O trabalho foi
desenvolvido em 10 municípios: Valente, Conceição do Coité, Araci,
Barrocas, Lamarão, Ichu, Teofilândia, São Domingos, Tucano e
Retirolândia. Além do mapeamento dos mestres artesãos e da
caracterização das artes e ofícios populares, a pesquisa também foi
importante para sistematizar os saberes populares de caráter artesanal,
que são “entendidos como tecnologias sociais em si mesmos e como parte
de redes e núcleos de cadeia de produção”, conforme descrito na
publicação do grupo. Também foi realizada uma análise dos saberes com o
objetivo de “criar critérios de análise da qualidade do desempenho” para
identificar mestres em artes e ofícios como indivíduos referenciais. O
projeto forneceu subsídios para a instalação de um museu contemporâneo
de artes e ofícios populares, vivo e interativo. O projeto culminou,
ainda, em três produtos: um catálogo, que além de outras informações da
pesquisa, contém 23 depoimentos dos artesãos mapeados, um documentário e
um site. De acordo com um dos pesquisadores, o gestor de comunicação do
CIAGS e um dos idealizadores da pesquisa, Rodrigo Maurício Soares, os
estudos consideraram como mestres artesãos “pessoas que têm muita
experiência e conhecimento dos saberes e fazeres tradicionais, ou seja, o
membro da comunidade que tem grande relevância para a consolidação da
cultura popular“. Nas cidades escolhidas, esses mestres eram
reconhecidos pela comunidade, que davam muita importância aos trabalhos
desenvolvidos pelos artesãos.
Desafios
Um dos grandes desafios para a atividade do artesanato diz respeito
às limitações de gestão, além da transmissão dos saberes. “Eles realizam
bem a arte do artesanato, alguns deles conseguem fazer a transmissão do
seu conhecimento para as futuras gerações, contudo, não sabem comunicar
sobre o seu produto para além de suas comunidades, nem gerenciar
finanças ou até tornar sua arte rentável”, afirma Rodrigo. Essa falta de
conhecimento na gestão criativa, no entanto, não compromete a
identificação do ofício de artesão enquanto elemento identitário da
comunidade. “Os mestres são reconhecidos nas cidades. As pessoas os
identificam como mestres e sabem da importância de passar para as novas
gerações o oficio de artesão,isso sim é importante para que essa cultura
não desapareça”.
A transmissão de saberes
A pesquisa também considerou que uma das dificuldades para a
consolidação da cultura popular, mais precisamente do artesanato, é a
forma como esses saberes podem ser disseminados para as crianças e
jovens das comunidades. No caso da região sisaleira, ainda existe
interesse em aprender o ofício, que é desenvolvido pelos mais velhos.
Entretanto, a insuficiência na geração de renda acaba afastando um
grande número de aprendizes, que em muitos casos, desenvolvem atividades
paralelas como a agricultura.
Pensando nessa transmissão de saber, os organizadores do projeto
desenvolveram quatro oficinas de passagens de saberes, nas cidades de
Araci, Barrocas, Ichu e Conceição do Coité. Elas envolveram os mestres
artesãos identificados e contou com ampla mobilização nos municípios,
com a divulgação nos meios de comunicação locais. Outro fator de risco
para a continuação de oficio de artesão é a escassez da matéria prima.
Segundo Rodrigo Maurício Soares, a causa para essa escassez está na
prática mercadológica que é desenvolvida pelos grandes produtores de
artesanato
O ofício
O ofício dos Mestres dos Saberes e Fazeres da Cultura Tradicional Popular do Estado da Bahia é regulamentado pela Lei 8.899/2003 e por meio de Decreto 9.101/2004. De acordo com o Instituto de Artesanato Visconde de Mauá, órgão
fomentador do artesanato baiano, é reconhecido como mestre “o artesão
que, com sua experiência e reconhecimento do saber e fazer tradicional, é
reconhecido na sua comunidade e por segmentos como transmissor e
fomentador desse saber”.
A pesquisa aponta uma grande diversidade de tipologias de artesanatos
na Bahia, contudo, ela se ateve à identificação dos mestres nas áreas
de cerâmica, madeira, couro, sisal e instrumentos musicais. As
características dessas tipologias podem ser conferidas no catálogo
“Mestres em artes e ofícios populares Território do Sisal/BA”.
Autoria do texto
Nádia Conceição é jornalista, estudante de produção cultural da UFBA e bolsista da Agência Ciência e Cultura. Fonte: Ciência e Cultura | UFBA
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