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Na rua Carlos Magalhães, bairro Cidade Nova, os carros transitam apertados, apertando, apitando buzinas que, combinadas com o calor do asfalto e o odor dos escapamentos, criam a experiência sensorial típica das grandes cidades. Paro em frente ao Mercado Deus é Grande (nome que cairia bem a uma loja de venda de indulgências, na Idade Média) e tenho a atenção tomada por uma fachada escrita: “Galeria de Arte Barroco“.
Embora estivesse com a porta aberta, não havia atendente na Galeria, a não ser um cachorro, que latia de longe, ao perceber minha presença, e um gato que pulava entre os objetos, como se não tivesse acostumado a ver estranhos ali.
Após algumas palmas e o “ô de casa”, uma voz diz que já vem. É seu Gildásio, proprietário, “curador” e artista da empoeirada Galeria – que também pode ser classificada como brechó e antiquário. Feirense, com 65 anos de idade, ele já chega explicando do que se trata o ambiente: “É muita bagulhada, como diz na gíria. Mas tem umas coisinha, não só minhas como de amigos meus”.
Segundo ele, a galeria existe há 8 anos. “Trabalho com pintura, madeira e coisas antigas. O que você riscar no papel eu faço na madeira. Só preciso de um pequeno sinal, porque tem gente que pede e não volta pra buscar. Tinha muita coisa aqui, mas vendi tudo. O cara, pra comer, tem que fazer qualquer coisa”. Seu Gildásio chegou a morar em Salvador, trabalhando alguns anos no Pelourinho, vendendo seus artigos a turistas.
Com seis filhos, ele mora numa casa modesta ao lado da Galeria, e diz que nunca trabalhou com outra coisa. Hoje, além do que recebe com o que vende, é aposentado. “Com esse dinheirinho tomo minhas cachaça e faço umas viagens de vez em quando”.
Saio da Galeria deixando seu Gildásio enrolando o fumo do cigarro, agradecido pela visita e interesse em sua história. Eu também agradeço, pelo contato com uma representação viva do povo que habita Feira de Santana, em permanente movimentação entre outros lugares e culturas, se arranjando criativamente para ganhar o pão – ou a cachacinha.
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